Rogério Cassimiro/Folhapress - 26.08.2008 |
A Polícia Federal investigou cerca de 40 empresas. Nesta sexta-feira (17), quando foi deflagrada a Operação Carne Fraca, o delegado responsável, Maurício Moscardi Grillo, destacou que em todas elas "tinham problemas sérios".
— É possível que a gente tenha consumido produtos de baixa qualidade, no
mínimo. Senão estragada, de qualidade inferior àquela que deveria ter
sido fornecida.
Multinacionais como a JBS (dona das marcas Friboi, Seara e Swift) e a
BRF (dona da Sadia, Perdigão) são citadas nas investigações. Leia posicionamento das empresas abaixo.
A Polícia Federal chegou a pedir o fechamento de uma unidade da BRF em
Mineiros (GO), mas que foi indeferida pelo juiz federal Marcos Josegrei
da Silva. Antes de qualquer decisão desse tipo, ele preferiu remeter o
tema ao Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento).
Os investigadores interceptaram ainda, com autorização da Justiça,
ligações de um diretor da BRF (dona das marcas Sadia e Perdigão), André
Baldissera, sobre a necessidade de intervir no Sipoa-GO (Serviço de
Inspeção de Produtos de Origem Animal em Goiás) para evitar a
interrupção das operações da empresa em Mineiros.
Parte da denúncia envolvendo a BRF em Goiás envolve ainda a exportação de carne de peru contaminada.
Em conversa do executivo da BRF com interlocutores, ele fala sobre uma
carga de 18 toneladas que foi devolvida por autoridades sanitárias
europeias, por estar contaminada com salmonella.
A salmonella é responsável por causar problemas gastrointestinais, como a
infecção alimentar, que tem como sintomas febre, diarreia e vômito.
"Chega a causar náuseas a naturalidade com a qual ambos tratam a
destinação a ser dada para a carne podre, com salmonela e altamente
imprópria para consumo - colocar no digestor [para fazer ração] ou fazer
mortadela", diz o juiz.
O magistrado ainda cita outro detalhe da investigação que aponta que a
BRF teria decidido que "a carga seria então vendida 'para outros
lados'".
O diretor de relações institucionais e governamentasi da BRF, Roney
Nogueira dos Santos, foi preso preventivamente hoje. Já o
vice-presidente, José Roberto Pernomian Rodrigues, foi levado pelos
agentes para prestar depoimento.
Ao longo da investigação foi apurado que frigoríficos pequenos e
grandes, como Seara (JBS) e BRF (Sadia e Perdigão) cometeram diversas
irregularidades.
Porém, o despacho judicial destaca que (nem todos cometem todas as
irregularidades adiante): reembalagem de produtos vencidos; excesso de
água; inobservância da temperatura adequada das câmaras frigoríficas;
assinaturas de certificados para exportação fora da sede da empresa e do
Mapa, sem checagem in loco; venda de carne imprópria para o consumo
humano; uso de produtos cancerígenos em doses altas para ocultar as
características que impediriam o consumo pelo consumidor.
Em um caso ainda mais assustador, os donos do frigorífico gaúcho Peccin, falam sobre usar cabeça de suíno para produzir linguiça calabresa, o que eles mesmo admitem ser proibido.
"A conclusão a que se chega é a de que a menor das preocupações que
possuem é a de inspecionar a adequação aos parâmetros de qualidade dos
produtos que depois serão consumidos por brasileiros e, nos casos de
exportação, por estrangeiros. A finalidade principal evidenciada nos
relatórios policiais de monitoramento telefônico é a de obter benefícios
pessoais de todas as espécies dos 'fiscalizados'. Vão de somas maiores e
menores de dinheiro e passam por caixas de carnes, frango, pizzas,
ração para animais, embutidos, favores diversos (de obtenção gratuita de
botas e roupas de trabalho a apoio para familiar fazer teste em ecola
de futebol), viagens, etc.", diz o juiz federal no despacho.
O delegado da PF, no entanto, ressalta que alguns dos fiscais corruptos
que permitiam que empresas operassem na ilegalidade não tinham coragem
de consumir as cestas de produtos que ganhavam.
Outro lado
A JBS diz que três unidades (duas no Paraná e uma em Goiás) foram alvos
da operação de hoje. Um veterinário da empresa, cedido ao Ministério da
Agricultura também teve ordem judicial expedida contra ele.
"A JBS no Brasil e no mundo adota rigorosos padrões de qualidade, com
sistemas, processos e controles que garantem a segurança alimentar e a
qualidade de seus produtos. A companhia destaca ainda que possui
diversas certificações emitidas por reconhecidas entidades em todo o
mundo que comprovam as boas práticas adotadas na fabricação de seus
produtos", diz a multinacional em nota.
Ainda no comunicado, a empresa afirma que "repudia veementemente
qualquer adoção de práticas relacionadas à adulteração de produtos –
seja na produção e/ou comercialização - e se mantém à disposição das
autoridades com o melhor interesse em contribuir com o esclarecimento
dos fatos".
A BRF informou por nota que "assegura a qualidade e a segurança de seus
produtos e garante que não há nenhum risco para seus consumidores, seja
no Brasil ou nos mais de 150 países em que atua". A companhia ainda
declarou que está colaborando com as autoridades e que "possui rigorosos
processos e controles e não compactua com práticas ilícitas".
Fonte: R7
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