Câmara aprova renegociação da dívida dos estados com a União

Foto: Luis Macedo / Câmara dos Deputados / Divulgação

A Câmara dos Deputados aprovou o projeto de renegociação das dívidas dos estados com a União, mas o texto ficou sem as chamadas contrapartidas, as exigências que os governos estaduais precisam cumprir.

Líderes começaram as negociações cedo na casa do presidente da Câmara, Rodrigo Maia. O governador do Rio. Luiz Fernando Pezão, estava junto. Apelou para os deputados aprovarem o projeto. Muitos resistiam porque a proposta que veio do Senado exigia dos estados contrapartidas que atingiam diretamente o funcionalismo público, como o congelamento de salários, de contratações e de promoções, e aumento da contribuição previdenciária.

Veio o acordo. Essas contrapartidas ficaram de fora. O líder do governo foi consultar o Ministério da Fazenda. O Palácio do Planalto não aceitava o acordo. O presidente da Câmara então criticou a articulação com a Fazenda.

“Eu acho que nós estamos ouvindo o Ministério da Fazenda, mas não precisamos dizer amém a ele. Nós temos que votar o texto que a Câmara entender que é o melhor para o Brasil. Se o presidente entender que não é o melhor para o Brasil, ele tem direito ao veto”, disse Rodrigo Maia.

Antes de botar o projeto em votação, criticou o governo: “Se a decisão do governo é não votar, que venha ao microfone e informe ao plenário. Não fique pedindo aos deputados para não dar presença.”

O líder do governo tentou esvaziar o plenário. Não conseguiu. O projeto foi aprovado por 296 votos a favor, 39 a mais que o mínimo necessário, e 12 contrários. E ficou assim: o estado pode refinanciar a dívida com a União por até 20 anos. Não pode aumentar despesas nos próximos dois anos. Os mais endividados podem entrar no programa de recuperação fiscal. A dívida fica suspensa por três anos. Nesse tempo, os estados só podem pegar dinheiro emprestado para financiar auditoria na folha de pagamento e para reestruturar dívidas com bancos.

“Não conseguimos apresentar uma proposta que venha ao encontro da necessidade dos estados e do país. Estamos hoje aqui produzindo um Frankenstein”, disse o deputado Pauderney Avelino, líder do DEM.
“Lógico que quando você faz uma negociação para o pagamento elástico de até 20 anos como foi o caso, é necessário que exista contrapartida. E essas contrapartidas foram modificadas. Portanto, o acordo feito entre o governo federal e os estados não foi cumprido”, afirmou André Moura (PSC-SE), líder do governo.

Essa foi uma derrota do governo na Câmara. O presidente Michel Temer agora recebe o projeto para sanção. Se não tiver vetos, os estados poderão refinanciar as dívidas com menos lição de casa a fazer. Os mais interessados são os três estados que decretaram estado de calamidade financeira: Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul.
O Ministério da Fazenda disse, em nota, que a votação da Câmara retirou do texto a definição de qual seria a situação financeira dos estados para torná-los aptos ao regime de recuperação fiscal, e uma série de vedações e condições que teriam que cumprir para readquirir o equilíbrio nas contas.
A nota diz que o governo tomará todas as medidas para que as propostas aprovadas assegurem que os estados readquiram o equilíbrio fiscal e financeiro. Por fim, o Ministério da Fazenda afirma que serão aprovados os planos que, de fato, viabilizem esse equilíbrio.

“Não basta o estado querer, ele tem que aprovar, dizer não, esse estado de fato está numa situação que justifica e ele está propondo tomar as medidas necessárias. E se não cumprir? Ele perderá o regime, ele deixará de estar no regime”, disse o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles.

Fonte: G1